Rio Doce e Paris: não cabe discutir qual foi a maior atrocidade
Daniel Cara
Inúmeros brasileiros questionam nas redes sociais a superexposição dos atos terroristas, ocorridos ontem (13/11) em Paris, em detrimento da problematização do crime socioambiental acontecido no Rio Doce (05/11), em Minas Gerais, com o rompimento das barragens de Fundão e Santarém, na unidade industrial de Germano, entre distritos dos municípios de Mariana e Ouro Preto.
Ambos foram lamentáveis e devem ser discutidos, em profundidade, na opinião pública. E é preciso punir os culpados.
Ainda são incalculáveis os efeitos socioeconômicos e ambientais da lama tóxica que vazou das barragens e cimenta o Rio Doce. É urgente a consequente responsabilização da empresa Samarco, controlada pela Companhia do Vale do Rio Doce e pela anglo-australiana BHP Billiton. Nenhum valor monetário é capaz de ressarcir a destruição de um ecossistema. Ainda mais se for considerada a letargia dos governantes no enfrentamento da questão.
Ao mesmo tempo, nada justifica os atos covardes praticados pelo Estado Islâmico em Paris. O fato é que ontem o terrorismo assassinou inúmeros cidadãos inocentes. E a tendência é de que eventos semelhantes continuem ocorrendo. Na prática, o Estado Islâmico declarou guerra ao mundo, ocidental e oriental. Está em risco qualquer um que não coadune com os preceitos arcaicos e preconceituosos da organização. Aliás, nenhum preceito – arcaico ou moderno – pode ser imposto pela força.
As atrocidades cometidas pelos Estados Unidos da América e outros países ocidentais no Oriente Médio não se justificam, tanto quanto os atos de terror.
A banalização do crime e do mal é inaceitável e deve ser repudiada. Embora avanços inegáveis no campo dos Direitos Humanos – ainda que em risco no Brasil e no mundo –, ela reside no seio da humanidade. Enfrentá-la deve ser uma missão de todas as nações e indivíduos. A educação tem um papel relevante nesse processo.