Não é simples substituir Cid Gomes
Daniel Cara
Com a saída de Cid Gomes do MEC (Ministério da Educação), os atores políticos e os veículos de comunicação estão em ebulição. Com isso, inúmeros arranjos são especulados em Brasília.
Na manhã de ontem, antes mesmo de Cid Gomes (Pros-CE) ir à Câmara dos Deputados, circulava em jornais e blogs uma improvável dança de cadeiras, supostamente idealizada pelo ex-presidente Lula.
Aloizio Mercadante (PT-SP) deixaria a Casa Civil e voltaria para a Educação, no lugar de Cid Gomes. O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ganharia uma vaga no Ministério do Turismo. O atual titular, Vinícius Lages, apadrinhado por Renan Calheiros (PMDB-AL), iria para a Integração Nacional, hoje ocupada pelo desacreditado PP – o partido mais afetado pela Operação Lava Jato.
Jaques Wagner (PT-BA), após ter demonstrado impressionante força política no Nordeste nas eleições de 2014, iria para a Casa Civil. Em seu lugar, no Ministério da Defesa, assumiria Aldo Rebelo (PCdoB-SP), hoje na pasta da Ciência e Tecnologia. Sua cadeira ficaria com Pepe Vargas, que deixaria as Relações Institucionais. Essa pasta iria para o PMDB, que nesse jogo de cartas tão marcadas, indicaria Eliseu Padilha – ex-ministro de FHC.
Em tempos de House of Cards, redes sociais e crise política, esse tipo de solução pouco provável ganha demasiado espaço na opinião pública e no meio político-partidário. Em tese, nada é impossível; contudo, em momentos de crise, sempre é bom lembrar da terceira Lei de Newton: “a toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade”. Essa dança de cadeiras teria o poder de desencadear forças incontroláveis, além de problemas incontornáveis.
Em caminho diferente e muito mais racional, a presidente Dilma Rousseff afirmou hoje a jornalistas que “estão criando uma reforma ministerial que não existe”. E completou: “estou fazendo uma alteração pontual. As circunstâncias às vezes obrigam você a fazer uma mudança. Vou escolher a pessoa boa para educação. Não a pessoa desse ou daquele partido.”
Diante dessas pistas, por mais improvável que seja, há quem aposte na volta (ou queda?) de Aloizio Mercante para o MEC. Surgem também comentários da ida de Jacques Wagner ou Mangabeira Unger para a pasta da Educação – no caso do segundo, há algum sentido, pois é o coordenador de fato do futuro macro programa “Brasil: pátria educadora”.
Indo por outro caminho, alguns personagens mais atentos à fala da presidente, olham para fora do mundo partidário e especulam com nomes oriundos da sociedade. Elencam nomes de lideranças que atuam em movimentos, institutos e fundações empresariais, todas com demasiado acesso ao Palácio do Planalto. Não é impossível, mas uma nomeação desse tipo desagradaria sindicatos, entidades acadêmicas e movimentos sociais – muito importantes no atual contexto de baixa popularidade.
O que ninguém discute é que são poucos os nomes com viabilidade política e reconhecimento técnico para assumir o Ministério da Educação. Virou lugar comum falar de “apagão de professores”. De fato, inúmeras redes públicas enfrentam a falta de docentes. No entanto, tão grave quanto, é o impressionante apagão de alternativas com legitimidade e aceitação perante a comunidade educacional.